Vamos conhecer mais sobre nosso Tradicionalismo?
Tese O Sentido e o Valor do Tradicionalismo - Barbosa Lessa
Na vida humana, a sociedade –
mais que o indivíduo – constitui a principal força na luta pela existência.
Mas, para que o grupo social funcione como unidade, é necessário que os
indivíduos que o compõem possuam modos de agir e de pensar coletivamente. Isto
é conseguido através da “herança social” ou da “cultura”. Graças à cultura
comum, os membros de uma sociedade possuem a unidade psicológica que lhes
permite viverem em conjunto, com um mínimo de confusão. A cultura, assim, tem
por finalidade adaptar o indivíduo não só ao seu ambiente natural, mas também
ao seu lugar na sociedade. Toda a cultura inclui uma série de técnicas que
ensinam ao indivíduo, desde a infância, a maneira como comportar-se na vida
grupal. E graças à Tradição, essa cultura se transmite de uma geração a outra,
capacitando sempre os novos indivíduos a uma pronta integração na vida em
sociedade.
I – A DESINTEGRAÇÃO DE NOSSA
SOCIEDADE
A cultura e a sociedade ocidental
estão sofrendo um assustador processo de desintegração. Incluídas nesse panorama
geral, a cultura e a sociedade de quaisquer dos povos ocidentais,
necessariamente, apresentam, com maior ou menor intensidade, idêntica
dissolução. É nos grandes centros urbanos que esse fenômeno se desenha mais
nítido, através das estatísticas sempre crescentes de crime, divórcio,
suicídio, adultério, delinqüência juvenil e outros índices de desintegração
social.
Analisando tais circunstâncias,
mestres da moderna Sociologia chegaram à conclusão de que problemas sociais
cruciantes da atualidade são causados, ou incentivados, pelo relaxamento do
controle dos costumes e noções tradicionais de cada cultura.
II – OS DOIS FATORES DE
DESINTEGRAÇÃO
Sociólogos de renome afirmam que
a desintegração social, característica de nossa época, é devida a dois fatores:
Primeiro: o enfraquecimento das
culturas locais.
Segundo: o desaparecimento
gradativo dos “Grupos Locais” comunidades transmissoras de cultura.
Analisemos, então, esses dois
fatores.
a) O ENFRAQUECIMENTO DO NÚCLEO
CULTURAL
A cultura de qualquer sociedade
se compõe de duas partes. Há um núcleo sólido, de certa forma estável,
constituído pelo PATRIMÔNIO TRADICIONAL. Nesse núcleo se concentram aqueles
inúmeros hábitos, princípios morais, valores, associações e reações emocionais
partilhados por TODOS os membros de determinada sociedade (como a linguagem, a
indumentária típica, os princípios fundamentais de moral, etc. ou ainda, por
TODOS os membros de certas categorias de indivíduos, dentro da sociedade (como
as ocupações reservadas só às mulheres ou só aos homens, as reações emocionais
típicas de todos os velhos ou de todas as crianças, bem como os conhecimentos
técnicos reservados aos ferreiros, aos médicos, aos agricultores, etc.). Tais
elementos culturais contribuem para o bem-estar da coletividade, pois o
indivíduo fica sabendo como comportar-se em grupo, e qual o comportamento que
pode esperar dos outros(“expectativas de comportamento”). Em suma: o cerne
cultural dá, aos indivíduos, a unidade psicológica essencial ao funcionamento
da sociedade.
Mas, cercando o núcleo, existe
uma zona fluída e instável, constituída por elementos culturais chamados, em
sociologia, Alternativas, e que são traços partilhados apenas por ALGUNS
indivíduos, representando diferentes reações às mesmas situações, ou diferentes
técnicas para alcançar os mesmos fins. (Certa pessoa viaja a cavalo, fazendo o
mesmo percurso que outra prefere realizar em carroça; certa pessoa sente-se
tremendamente ofendida se alguém faz “crítica” a um defeito físico seu,
enquanto outra se comporta resignadamente face a tais críticas; etc.)
É esta zona de Alternativas que
permite à cultura crescer e acomodar-se aos avanços de uma civilização.
Evidentemente, quanto maior for o entrechoque com culturas diversas, maior será
a possibilidade de adoção de novas Alternativas, por parte dos membros de uma
sociedade.
Quando a cultura de determinado
povo é invadida por novos hábitos e novas idéias, duas coisas podem ocorrer: se
o patrimônio tradicional dessa cultura é coerente e forte, a sociedade só tem a
lucrar com o referido contato, pois sabe analisar, escolher e integrar em seio
aqueles traços culturais novos que, dentre muitos, realmente sejam benéficos à
coletividade; se , porém, a cultura invadida não é predominante e forte, a
confusão social é inevitável: idéias e hábitos incoerentes sufocam o núcleo
cultural, desnorteando os indivíduos, e fazendo-os titubear entre as crença e
valores mais antagônicos. Quem mais sofre com essa confusão social – acentua o
sociólogo Donal Pierson – são as crianças e os adolescentes, os responsáveis
pela sociedade do porvir.
Crescendo nessas circunstâncias,
a criança não sabe como agir, não é capaz de assumir, em seu espírito, qualquer
expectativa clara de comportamento. E assim se originam, entre outros, os
problemas da delinqüência juvenil, resultados de uma desintegração social.
Pois bem. Devido ao surto
surpreendente do maquinismo em nossos dias, bem como da facilidade de
intercâmbio cultural entre os mais diversos povos, observa-se que o núcleo das
culturas locais ou regionais vai se reduzindo gradativamente, a ponto de se ver
sufocado pela zona das Alternativas. E a fluidez naturalmente se acentua, à
medida que as sociedades mantêm novos contatos com traços culturais diferentes
ou antagônicos, introduzidos por viajantes ou imigrantes, ou difundidos por
livros, imprensa, cinema, etc. Nossa civilização, antes alicerçada num núcleo
sólido e coerente, transformou-se numa variedades de Alternativas, entre as
quais o indivíduo tem que escolher.. Sem ampla comunidade de hábitos e de idéias,
porém, os indivíduos não reagem com unidade a certos estímulos, nem podem
cooperar eficientemente. Daí os conflitos de ordem moral que afligem o
indivíduo, fazendo atarantar-se sem saber quais as opiniões e os valores que
merecem acatamento.
Essa insegurança reflete-se
imediatamente na sociedade como um todo e, consequentemente no Estado, pois,
conforme ensina Ralph Linton “embora os problemas de organizar e governar
Estados nunca tenham sido perfeitamente resolvidos, uma coisa parece certa: se
os cidadãos tiverem interesses e culturas comuns, com a vontade unificada que
daí advém, quase qualquer tipo de organização formal de governo funcionará
eficientemente; mas se isso não se verificar, nenhuma elaboração e padrões
formais de governo, nenhuma multiplicação de lei, produzirá um Estado eficiente
ou cidadãos satisfeitos”.
b) O DESAPARECIMENTO DOS “GRUPOS
LOCAIS”
As duas unidades mais sociais
mais importantes, como transmissoras de cultura, são a “família” e o “grupo
local”. Através dessas duas unidades, o indivíduo recebe, com maior
intensidade, a sua “herança social”.
São exemplos de “grupo local”, em
nossa sociedade, o “vizindário” ou “pago” das populações rurais, bem como as
pequenas vilas do interior, ou ainda (um exemplo do passado) os bairros com vida
própria das cidades de há alguns anos atrás.
Por “grupo local” entende-se o
agregado de famílias e de indivíduos avulsos que vivem juntos em certa área,
compartilhando hábitos e noções comuns.
Embora não tenha organização
formal (como o distrito ou o município), o “grupo local” é a unidade social
autêntica. O “pago”, por exemplo, influencia a vida dos seus membros,
estabelece limites à vida social (quais as famílias que podem ser convidadas para
as festas) , mantém elevado grau de cooperação entre os indivíduos, pois todos
devem se auxiliar (antigos trabalhos de puxirão) e cada qual tem consciência
desse dever de auxílio mútuo. O Indivíduo conhece perfeitamente os costumes e
os princípios morais instituídos pelo seu “pago”; além disso, há um
conhecimento íntimo entre os membros de um mesmo “pago” (conhecem-se até os
animais objetos pertencentes aos vizinhos). Todas essas circunstâncias influem
para que o “grupo local” se constitua numa potente barragem para as
transgressões à ordem pública ou à moral (furto, sedução, adultério, etc.).
Ademais, embora não tenha um meio de reação formal(como a polícia), o “grupo
local encerra grande força punitiva, através de medidas como a perda de
prestígio, o ridículo, o ostracismo. Certamente já depreendemos, então, a
grande importância de que se reveste o “grupo local” para assegurar a
normalidade da vida comum, segundo os padrões culturais instituídos pelo grupo.
Acresce notar o seguinte: o
integrar-se a um “grupo local” constitui verdadeira NECESSIDADE PSICOLÓGICA
para o indivíduo normal. Este precisa de uma unidade social coesa, maior que a
família, dentro da qual sinta que outros indivíduos são seus amigos, que
compartilham suas idéias e hábitos. Tanto é verdade que o indivíduo se sente
inseguro quando se vê só entre estranhos.
Pois bem. O enfraquecimento da
vida grupal – conforme acentuou Ralph Linton – é outra característica de nossa
época. As unidades sociais pequenas estão gradativamente desaparecendo, e cedendo
lugar às massas de indivíduos. Nas zonas rurais, os “grupos locais” ainda
conservam um pouco de sua função como portadores de cultura; mas, em geral –
devido ao afluxo de Alternativas – os jovens discordam dos padrões culturais
antigos; acontece, porém, que a sociedade mais ampla – com a qual o jovem entra
em contato por meio da imprensa, do rádio e cinema – ainda não têm padrões
coerentes de vida para oferecer-lhes. Daí a insegurança que começa a notar-se
em nossa sociedade rural.
Se nas zonas rurais se percebe
apenas uma insegurança incipiente, apenas o relaxamento das forças do “grupo
local” , o que se percebe nas cidades é a desintegração total dessas forças. A
mudança de padrões culturais, em nossos dias, tem sido tão rápida que, em
geral, o adulto de hoje teve sua infância condicionada à vida segundo as bases
do “grupo local”. Ensinaram-lhe a esperar dos seus vizinhos encorajamento e
apoio moral; e quando esses vizinhos se afastam, o indivíduo se sente perdido.
Ele escolhe entre muitas Alternativas, mas não dispõe de meios para estabelecer
contato com outros que tenham feito, escolha semelhante.
Sem o apoio de um grupo que pense
do mesmo modo, é – lhe impossível sentir-se seguro a respeito de qualquer
assunto. E assim o indivíduo torna-se presa fácil de qualquer propaganda
insistente, (quer seja a má propaganda, quer seja a boa propaganda).
Por isso, Ralph Linton escreveu
“A cidade moderna, com sua multiplicidade de organizações de toda a espécie, dá
a imagem de uma massa de indivíduos que perderam seus “grupos locais” e estão
tentando, de maneira tateante, substituí-los por alguma outra coisa. De todos
os lados surgem novos tipos de agrupamentos, mas até agora nada foi encontrado,
que pareça capaz de assumir as principais funções do “grupo local”. Ser membro
do Rotary Club, por exemplo, não substitui adequadamente a posse de vizinhos e
amigos tal como se verifica nos grupos locais”.
O MOVIMENTO TRADICIONALISTA RIO –
GRANDENSE
O movimento tradicionalista
rio-grandense – que vem se desenvolvendo desde 1947, com características
especialíssimas – visa precisamente combater os dois reconhecidos fatores de
desintegração social. O fundamento científico deste movimento encontra-se na
seguinte afirmação sociológica: “Qualquer sociedade poderá evitar a dissolução
enquanto for capaz de manter a integridade de seu núcleo cultural.
Desajustamentos, nesse núcleo, produzem conflitos entre indivíduos que compõem
a sociedade, pois esses vêm a preferir valores diferentes, resultando, então, a
perda da unidade psicológica essencial ao funcionamento eficiente de qualquer
sociedade”.
Através da atividade artística,
literária, recreativa ou esportiva, que o caracteriza – sempre realçando os
motivos tradicionais do Rio Grande do Sul – o Tradicionalismo procura, mais que
tudo, reforçar o núcleo da cultura rio-grandense, tendo em vista o indivíduo
que tateia sem rumo e sem apoio dentro do caos de nossa época.
E, através dos Centros de
Tradições, o Tradicionalismo procura entregar ao indivíduo uma agremiação com
as mesmas características do “grupo local” que ele perdeu ou teme perder: o ”
pago”. Mais que o seu “pago”, o pago das gerações que o precederam.
Cada Centro de Tradições Gaúchas,
em si, é um novo “Grupo Local”. E à medida que surgem novos Centros, em todos
os municípios do Rio Grande do Sul, vai o Tradicionalismo confundindo-se com o
Regionalismo, pois opera para que todos os indivíduos que compõem a Região
sintam os mesmos interesses, os mesmos afetos, e desta forma reintegrem a
unidade psicológica da sociedade regional. E com isso o Tradicionalismo pode se
transformar na maior força política do Rio Grande do Sul. Para evitar confusão
de “política” com “política partidária”, expressemo-nos assim: O
Tradicionalismo pode constituir-se na maior força a auxiliar o Estado na resolução
dos problemas cruciais da coletividade.
Para compreendermos tal
afirmativa, basta repetir a transcrição já feita: “Se os cidadãos tiverem
interesses e culturas comuns, com vontade unificada que daí advém, quase
qualquer tipo de organização formal de governo funcionará eficientemente. Mas,
se isso não se verificar, nenhuma elaboração de padrões formais de governo,
nenhuma multiplicação de lei, produzirá um Estado eficiente ou cidadãos
satisfeitos.
O SENTIDO DO TRADICIONALISMO
O Tradicionalismo consiste numa
EXPERIÊNCIA do povo rio-grandense, no sentido de auxiliar as forças que pugnam
pelo melhor funcionamento da engrenagem da sociedade. Como toda experiência
social, não proporciona efeitos imediatamente perceptíveis. O transcurso do
tempo é que virá dizer do acerto ou não desta campanha cultural. De qualquer
forma, as gerações do futuro é que poderão indicar, com intensidade, os efeitos
desta nossa – por enquanto – pálida experiência. E ao dizermos isso, estamos
acentuando o erro daqueles que acreditam ser o Tradicionalismo uma tentativa
estéril de “retorno ao passado”. A realidade é justamente o oposto: o
Tradicionalismo constrói para o futuro.
Feitas estas considerações
preliminares, podemos tentar um conceito do movimento tradicionalista. E então
diremos:
“Tradicionalismo é o movimento
popular que visa auxiliar o Estado na consecução do bem coletivo, através de
ações que o povo pratica (mesmo que não se aperceba de tal finalidade) com o
fim de reforçar o núcleo de sua cultura: graças ao que a sociedade adquire
maior tranqüilidade na vida comum”.
CARACTERÍSTICAS DO
TRADICIONALISMO
Mais do que uma teoria, o
Tradicionalismo é um movimento. Age dentro da psicologia coletiva. Sua dinâmica
realiza-se por intermédio dos Centros de Tradições Gaúchas, agremiações de
cunho popular que têm por fim estudar, divulgar e fazer com que o povo “viva”
as tradições rio-grandenses.
O Tradicionalismo deve ser um
movimento nitidamente POPULAR, não simplesmente intelectual. É verdade que o
tradicionalismo continuará sendo compreendido, em sua finalidade última, apenas
por uma minoria intelectual. Mas, para vencer, é fundamental que seja sentido e
desenvolvido no seio das camadas populares, isto é, nas canchas de carreiras,
nos auditórios de radioemissoras, nos festivais e bailes populares, na “Festas
do Divino” e de “Navegantes”, etc.
Para alcançar seus fins, o
Tradicionalismo serve-se do Folclore, da Sociologia, da Arte, da Literatura, do
Esporte, da Recreação, etc. Tradicionalismo não se confunde, pois, com
Folclore, Literatura, Teatro, etc. Tudo isso constitui MEIOS para que o
Tradicionalismo alcance seus fins. Não se deve confundir o Tradicionalismo, que
é um movimento,, com o Folclore, a História, a Sociologia, etc., que são
ciências. Não se deve confundir o folclorista, por exemplo, com o
tradicionalista: aquele é o estudioso de uma ciência, este é o soldado de um
movimento. Os Tradicionalistas não precisam tratar cientificamente o folclore;
estarão agindo eficientemente se servirem dos estudos dos folcloristas, como
base de ação, e assim reafirmarem as vivências folclóricas no próprio seio do
povo.
AS DUAS GRANDES QUESTÕES DO
TRADICIONALISMO
Existem duas questões
importantíssimas, que de maneira nenhuma podem ser descuidadas pelos
tradicionalistas, sob pena deste esforço cultural se desenhar, de antemão, como
uma experiência fracassada.
a) ATENÇÃO ESPECIAL ÀS NOVAS
GERAÇÕES
Deve, o Tradicionalismo, operar
com intensidade no setor infantil ou educacional, para que o movimento
tradicionalista não desapareça com a nossa geração. Porque nós – os
tradicionalistas de primeira arrancada – entramos para os Centros de Tradições
Gaúchas movidos pela necessidade psicológica de encontrar o “grupo local” que
havíamos perdido ou que temíamos perder. Mas as gerações novas não chegaram a conhecer
o grupo local como unidade social autêntica, e somente seguirão nossos passos
por força de impulsos que a educação lhes ministrar.
Por isso não temo afirmar que o
dia mais glorioso para o movimento tradicionalista será aquele em que a classe
de Professores Primários do Rio Grande do Sul – consciente do sentido profundo
desse gesto, e não por simples atitude de simpatia – oferecer seu decisivo
apoio a esta campanha cultural.
Aliás, não se concebe que as
Escolas Primárias continuem por mais tempo apartadas do movimento
tradicionalista. Pois a maneira mais segura de garantir à criança o seu
ajustamento à sociedade é precisamente fazer com que ela receba, de modo
intensivo, aquela massa de hábitos, valores, associações e reações emocionais –
o patrimônio tradicional, em suma – imprescindíveis para que o indivíduo se
integre eficientemente na cultura comum.
b) ASSISTÊNCIA AO HOMEM DO CAMPO
A idéia nuclear das Tradições
Gaúchas é a figura do campeiro das nossas estâncias. Por isso, é sumamente
necessário que o Tradicionalismo ampare social e moralmente o homem do campo,
para que um dia não se chegue à situação paradoxal de manter-se uma Tradição de
fantasia, em que se tecessem hinos de louvor ao “Monarca das Coxilhas”, ao
“Centauro dos Pampas”, e esse gaúcho fosse um desajustado social, um pária
lutando febrilmente pela própria subsistência. A nossa cultura somente poderá
se impor sobre as outras culturas, no entrechoque inevitável, se for
suficientemente prestigiosa. Daí a razão por que precisamos mostrar às novas
gerações – bem como àqueles que, vindos de terras distantes, acorrerem à nossa
querência – que as tradições gaúchas são REALMENTE belas, e que o gaúcho merece
realmente a nossa admiração.
O TRADICIONALISMO COMO FORÇA
ECONÔMICA
Prestigiando as tradições gaúchas
e prestando assistência moral e social ao homem do campo, o Tradicionalismo
estará contribuindo de maneira inestimável para a solução do problema que ora
sufoca a nossa vida econômica: o êxodo rural, a crise agrícola. É que, dentre
as principais causas do êxodo rural, encontramos uma que foge ao âmbito dos
fenômenos econômicos. Para proteger o homem do campo, e fazer com que ele permaneça
no meio rural, não basta que o Estado lhe forneça meios econômicos mais
seguros. Se o campesino acaso julgar que o lugar que lhe está reservado na
sociedade encontra-se nas cidades, ele será um desajustado enquanto não
realizar seu sonho de transferir-se para a cidade. Este fenômeno prende-se ao
conceito sociológico de “status”, que é a posição social de uma pessoa em
relação a todas as outras com quem está em contato. Se “os outros” demonstram
que certo indivíduo ocupa um “status” digno, ele fica satisfeito; mas se “os
outros” demonstram o contrário, ele é, inconscientemente, levado a demonstrar
habilidade, e, nesse afã, sempre deseja competir com os indivíduos que
considera superiores, jamais com aqueles que considera inferiores. Assim sendo,
se o campesino se considera inferior ao citadino, mais cedo ou mais tarde
tentará procurar a cidade, para ali competir com quem lhe rouba a posição
social.
Prestigiando as tradições
gaúchas, e prestando assistência moral e social ao homem do campo, o Tradicionalismo
estará convencendo o campesino da dignidade e importância do seu “status”.
Estará, em suma, pondo em prática aquilo que o sanitarista Belizário Penna um
dia salientou, mais ou menos nestes termos: “O Brasil é o país onde mais se
fala em valorização. Valorização do café brasileiro, do dinheiro brasileiro, do
algodão brasileiro, do boi brasileiro. Somente não se pensa na mais urgente e
importante valorização: a do Homem brasileiro, a qual, por si só, estaria
conduzindo a todas as outras”.
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